domingo, 8 de março de 2009

Aniversário Atrasado

Em algum lugar,
a celebração é inversa.
Comemoração de sentimento alheio.
Por dentro, só solidão.
Diferentes caminhos.
E o destino ainda conta com suas armas.
Paladar que se adapta.
Beijo somente as mãos amputadas.
Meu coração se despede da paixão.

(escrito em 15/10/2007)

Do que são feitos os poetas.

Escondi num abrigo.
Protegi como parte de mim,
que é,
como meu umbigo.
Assoprei bem de leve,
dei oxigênio,
sonhei,
fortaleci o instinto.
Vieram ventos fortes,
vento da doença,
ilusão,
desespero e privação.
Mas, mantive-me firme,
confundindo objeto e causador da ação.
Quando vi tudo junto,
pensei ser o mundo do elemento fogo,
dei-me conta de que tudo está unido,
e, que todos os outros são precisos.
Vi bruxuleando a luz no infinito.
Luz e escuridão.
Fiz uma cabana com a minha mão.
Eis-te idílio!
Guardado, acolhido.
Motor do meu coração.

A Festa Escorrida

Vi pela rua,
escorrida,
rios de embarcações.
Algumas alegres,
outras em porções.
Percebi que o privilégio se perdeu em quantidade.
E que a ninfa dos pequenos barcos,
esteve ocupada.
De repente, uma luz rasgou a multidão.
Mas foi pequena e se apagou.
Vi o lobo que levou o cordeiro,
de mãos dadas.
Numa alegria vigiada.
Outros vi em suas verdadeiras fantasias.
Para alguns, poucos, não importava o representado: o descaso.
Ou a necessidade, como primeiro passo.
Poucos ainda, passavam-se por neutros.
Outros, tão próximos... foram-se distantes,
porque não foram o que deviam ser.
As dançarinas tiravam pedras do chão.
Ouviram gritos histéricos...
Transfigurou-se a imagem,
e foi percebida a falta de noção.
Tantas, tantas águas passavam e não havia copos para guardá-las.

Dancing with myself ("a vida não é baile")

Sento-me em meio ao nada.
Valorizo cada passo, intenção, olhar ou desconhecido sorriso.
Onde estive por tanto tempo?
Olhei tudo através do espelho.
Vi a forma arredondada do desespero.
Espero a visita de amigos,
estranhos e conhecidos.
Coloco alguma coisa para ser meu combustível.
Lembro-me dos tempos de outrora,
mesmo clima,
mais retórica.
Gostaria de parar o mover de alguns momentos.
Abençôo o sol a cada dia que o vejo.
Importa-me mais a luz,
mas não desprezo a escuridão.
Olho quem se prepara para o baile:
única maneira de ter uma ruidosa solidão.
("a vida não é baile")

Prato Comum

Troco os temperos,
para fazer a mesma massa.
Repito,
nenhuma situação inusitada.
O vôo até o chão,
também parece ameno.
Fico embaixo da mesa,
anotando os recados.
Deito-me,
quando o som de minha voz ecoa.
O que está acostumado a pedir,
pede.
Confiança.
Por muito tempo oferecida.
Hoje pensada.
Amanhã racionada.
Raciocinada.
Entusiasta!
Assassinada.
Empurro grandes peças,
para evitar o final do jogo.
Melhor seria estar imóvel,
para dissimular a evolução.
Escondo a amabilidade,
porque esta sim é verdadeira.
E me custa um bocado.
Coloco os últimos ingredientes.
Valorizo o que faço.

Ritual Tibetano

Sento-me embaixo da árvore,
os frutos não caem nunca.
Procuro em todos os galhos,
e o sol lancina meu trabalho árduo.
Deixo a xícara de chá descansando ao meu lado.
Talvez nunca mais venha a tomá-la.
Mas, por vezes, encho-a até a borda.
Coloco minha camisola bonita,
assim que raia o dia.
E prendo flores nas orelhas.
E o sol mais uma vez me castiga.
Procuro me esconder entre outros galhos,
mas a brincadeira de achar a luz por entre as folhas,
surte resultado.
Vejo várias formas brilhantes,
na verdade, todas,
mas só você não está ao meu lado.

Gentios Gentis

Imediatamente percebo que não sou múltipla.
Obviamente adivinho distorcidas mensagens.
Eu acredito na ilusão de mim mesma.
O despertador está quinze minutos adiantado.
E eu começo a enxergar quem está do meu lado.
De ternuras, arranhões e sílabas...
Somos tão absolutamente iguais que isso até cansa.
De grupos, escolhidos, não pela minha vontade, não gosto.
Quero alguém para abraçar.
Que não está.
Em nenhum tempo.
Por vezes, perco meu colar de flores.
E, não me conformo, se alguém pode me esperar.
Talvez, veja sempre nas mariposas, as borboletas.
Sinto-me inquebrantável.
Troco flores, sorrisos e ternuras por coisas de outro valor.
Ofendo-me tanto!
Por indelicadezas disfarçadas de gentilezas.
Prefiro, os gentios.
Gentis.
A captação de um momento é infinita.
Mesmo que o movimento também seja.
Nada nunca termina.