quarta-feira, 23 de julho de 2008

Daquilo que observo e absorvo.

Assisti ao espetáculo não ensaiado.
Aceitei, o que para mim, poderia ser veneno.
Mas, verti de bom grado.
Repensei tudo o que reclamei.
Calei.
Entendi que nem me falta espaço.
Abençoei cada centímetro.
Sei o quanto foi suado.
Observei que o alimento é união.
E na falta dele?
Conhece-se a face.
Não a verdadeira.
Mas, a do animal, lutando pela preservação.
É fácil ter retórica,
gostar de ópera,
quando não falta pão.
Louvo toda arte,
cuspida, escarrada e expelida,
quando ela impera!
Em insuficiente econômica situação.

O coração no vidro.

Coloquei meu coração num vidro.
Observei que nele tem um resíduo.
Por mais que silencie os zunidos,
bem lá no fundo,
fundo dele,
tem o resíduo.
Interessante.
Coloquei o vidro na estante.
Quem sabe, ele mude de interesse se cercado de livros.
Mesmo com a transparência,
absorvendo nomes de opulência,
o resíduo teima por sua sobrevivência,
abrindo mão de toda ciência.
Tentei colocá-lo no armário,
quem sabe as roupas poderiam sugerir outro fardo,
mesmo assim,
sem resultado.
O resíduo é tudo o que não sou, o que não sei,
que não me encaixo,
é toda notícia espaçada do passado,
o resíduo é você,
a única forma de te ter ao meu lado.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Curetagem

Saiu de mim o que era parte e o que era todo.
Absorveu com fúria,
cuspiu com fogo.
De toda ferida,
não me sinto nem da metade refeita.
Poderia ter quebrado qualquer osso do meu corpo,
que não me sentiria satisfeita.
Por que o amor conhece chances que não se realizam?
Partiu a incondicionalidade,
o coração,
e, talvez,
o pouco de sanidade.